A miscigenação brasileira é um dos principais motivos pelos qual é mais difícil encontrar um doador de medula óssea em nossa país. A chance é de um a cada 100 mil pessoas, segundo dados do Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome). Por isso, em 2009 foi instituída a Lei Nº 11.930, que fixou o período de 14 a 21 de dezembro como a Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea, com o objetivo de promover o esclarecimento e a conscientização sobre a doação e o transplante de medula.
O hematologista Dr. João Victor Piccolo Feliciano, líder da Unidade de Transplantes de Células-Tronco Hematopoéticas do complexo Funfarme, explica que a medula óssea é considerada a fábrica de sangue. “A medula óssea é um tecido que ocupa o interior dos ossos e desempenha papel fundamental no desenvolvimento das células do sangue. Numa condição normal, as pessoas produzem sangue continuamente, mas algumas doenças podem fazer com que esta produção seja insuficiente ou até mesmo bloqueada, como nas leucemias agudas e outros tipos de câncer que envolvam as células-tronco”, afirma.
O especialista destaca que o Transplante de Medula Óssea (TMO) para as leucemias é necessário quando o paciente não tem possibilidade de atingir a cura apenas com o tratamento com quimioterapia. “Com o transplante, o paciente volta a ter a produção normal de sangue e as novas células de defesa ajudam a atacar a leucemia”, observa.
O complexo Funfarme realizou 507 transplantes de medula desde 2020. “O Hospital de Base e o Hospital da Criança e Maternidade realizaram, juntos, 109 transplantes somente entre janeiro e novembro deste ano. Há muitos pacientes Brasil afora aguardando a oportunidade, mas não possuem doador. Por isso a Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea é tão importante”, diz o hematologista. “Além de conseguir o cadastro de novos doadores, o objetivo é fazer com que as pessoas já cadastradas lembrem-se de informar sobre qualquer alteração e atualização nos dados fornecidos, como telefone e endereço”, observa.
Quem pode doar?
Em 2021, o Ministério da Saúde alterou a idade limite do cadastramento de candidatos à doação de medula óssea para 35 anos (antes era 55). Para se cadastrar, a pessoa precisa ter entre 18 e 35 anos, boa saúde e não apresentar doenças transmissíveis pelo sangue e situações clínicas que possam comprometer a segurança do doador. O limite para efetivar a doação de medula óssea não aparentada não foi alterado e todos os doadores (mesmo os que irão se cadastrar a partir do novo critério de idade) poderão realizar a doação até 60 anos de idade.
Segundo o hematologista Dr. João Victor Piccolo Feliciano, a doação aparentada é possível com pelo menos 50% de compatibilidade, incluindo pais, irmãos, filhos e primos. “Com as técnicas atuais, é possível fazer o transplante com segurança em casos de 50% de compatibilidade. Cada nível de compatibilidade tem vantagens e desvantagens, dentro do contexto clínico do receptor. O paciente tem uma necessidade e se o médico chegou ao ponto de preferir um doador com 50% de compatibilidade é porque ele foi considerado o mais adequado. O importante é ter acesso ao transplante. O melhor doador – seja aparentado, não aparentado, 100% ou 50% – é aquele que o paciente tem quando precisa”, afirma.
Cruzamento de dados
O hematologista Dr. João Victor Piccolo Feliciano explica que quando o paciente entra no Banco Nacional de Receptores de Medula Óssea (Rereme), os dados são cruzados com as informações do Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome). “Quando um possível doador é encontrado, ele é convocado a comparecer a um Hemocentro para realizar um teste confirmatório. No terceiro momento, a pessoa é chamada para uma consulta médica, com entrevista, exame físico, avaliação laboratorial e imagens, como radiografia e eletrocardiograma. É avaliada a saúde do doador”, diz.
Tanto a doação aparentada como a não aparentada podem ser feitas de duas formas: por punção de medula óssea ou por técnica de aférese (coleta pelas veias do braço). A decisão sobre o método é compartilhada entre a necessidade do paciente, a expertise da equipe médica e, principalmente, a opinião do doador. O método mais tradicional é por meio de punção, feita no centro cirúrgico sob anestesia em que a medula óssea é retirada do interior do osso da bacia, por meio de punções. No outro método, o doador recebe um medicamento por quatro dias para mobilizar as células da medula óssea para o sangue e é utilizada uma máquina que realiza um processo chamado aférese. O sangue é separado em algumas camadas, sendo retiradas apenas as células necessárias para o transplante, devolvendo o restante do sangue ao doador. Este é um procedimento ambulatorial, ou seja, não precisa de internação e dura de 4 a 6 horas.
Por: Assessoria de Imprensa
Foto: Hospital de Base / Divulgação