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Vacinação Infantil na Maré Cai Quase 90% em Dias de Operações Policiais

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© Fernando Frazão/Agência Brasil

O número de vacinas aplicadas em crianças de até 6 anos no Conjunto de Favelas da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro, sofre uma queda drástica em dias de operações policiais, mesmo quando as unidades de saúde permanecem abertas. A conclusão é de um estudo que investigou o impacto dos tiroteios no acesso à imunização em regiões periféricas.

Em 2024, operações das forças de segurança ocorreram em alguma comunidade do complexo em 43 dias, resultando no fechamento de pelo menos uma unidade de saúde em 22 deles. Nesses dias, a média de crianças vacinadas foi de apenas nove, representando uma redução de 90% em comparação com a média de 89 imunizações em dias normais. A média diária de doses aplicadas também despencou, de 187 para 20.

O levantamento analisou dados do primeiro semestre deste ano, revelando que, em dias normais, a média foi de 176,7 doses aplicadas e 76 crianças atendidas. Nos dias de operações policiais, esses números caíram para 21,1 doses e 11 crianças imunizadas por dia.

Mesmo quando as unidades de saúde permaneceram abertas durante as operações, a vacinação diminuiu 82%, tanto no número de doses quanto no de crianças vacinadas. O estudo aponta para um “efeito indireto ou difuso das operações”, causado pela “atmosfera de medo e tensão, que restringe a circulação de moradores e profissionais e o acesso às unidades de saúde para vacinar suas crianças”.

A Maré, um dos maiores conjuntos de favelas do Brasil, abriga quase 125 mil habitantes, dos quais mais da metade tem menos de 30 anos, e 12,4% são crianças de 0 a 6 anos. O complexo é atendido por seis unidades básicas de saúde, que oferecem as vacinas previstas no calendário básico do Sistema Único de Saúde (SUS).

Atrasos ou ausência de vacinação em crianças pequenas podem colocar em risco toda a comunidade, comprometendo a imunidade coletiva, essencial em um território densamente povoado como a Maré, que enfrenta desafios como saneamento. A imunidade coletiva protege indiretamente aqueles que não podem ser vacinados, como recém-nascidos, e sua fragilização aumenta o risco de surtos e epidemias.

A perda de oportunidade de vacinação é uma preocupação central, pois a falta de acesso aos postos de vacinação impacta a imunização, associada à rotina das famílias. Uma oportunidade perdida pode significar que a criança não retornará ou só o fará muito tempo depois.

Diante desse cenário, é demandada a redução da violência armada, a proteção das unidades de saúde e a consideração do impacto das operações nesses serviços no planejamento. Para as crianças que não foram vacinadas, recomenda-se a vacinação em espaços intersetoriais, como escolas e centros de assistência social, e a busca ativa por agentes comunitários de saúde. É cobrado um planejamento qualificado e articulado com a saúde e a assistência social, buscando superar o dilema entre a atuação policial violenta e a interrupção dos serviços de saúde.

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

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